Borboleteando...

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A vontade impulsiva de escrever e depois de ver tantos blogs interessantes me levou a criar um também... como borboleta, vou borboleteando por aí, sem saber onde isso vai dar nem onde irei parar... Bons vôos... εïз~*~

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domingo, 11 de novembro de 2012

No País das Maravilhas...


Semana passada, na faculdade, meu grupo e eu apresentamos uma análise psicanalítica da vida e obra de Lewis Carroll, autor de Alice no País das Maravilhas e foi muito intenso mergulhar na vida dele, conhecer nuances que não são mostradas com tanta frequência, compreender que muitas neuroses dele também são minhas... Registro aqui esta foto de "Chapeleira Maluca" e, fazendo minhas as palavras de Carrol em seu diário, digo: "Este foi um dia pára não esquecer".
Deixo abaixo o texto do Paulo Mendes Campos, tão inspirador:

Para Maria da Graça(Paulo Mendes Campos)

         Quando ela chegou à idade avançada de 15 anos e eu lhe dei de presente o livro Alice no País das Maravilhas.
         Este livro é doido, Maria. Isto é: o sentido dele está em ti.
         Escuta: se não descobrires um sentido na loucura acabarás louca. Aprende, pois, logo de saída para a grande vida, a ler este livro como um simples manual do sentido evidente de todas as coisas, inclusive as loucas. Aprende isso a teu modo, pois te dou apenas umas poucas chaves entre milhares que abrem as portas da realidade. A realidade, Maria, é louca.
         Nem o Papa, ninguém no mundo, pode responder sem pestanejar à pergunta que Alice faz à gatinha: "Fala a verdade, Dinah, já comeste um morcego?"
         Não te espantes quando o mundo amanhecer irreconhecível. Para melhor ou pior, isso acontece muitas vezes por ano. "Quem sou eu no mundo?" Essa indagação perplexa é o lugar comum de cada história de gente. Quantas vezes mais decifrares essa charada, tão entranhada em ti mesma como os teus ossos, mais forte ficarás. Não importa qual seja a resposta; o importante é dar ou inventar uma resposta. Ainda que seja mentira.
         A sozinhez (esquece essa palavra que inventei agora sem querer) é inevitável. Foi o que Alice falou no fundo do poço: "Estou tão cansada de estar aqui sozinha!" O importante é que ela conseguiu sair de lá, abrindo a porta. A porta do poço! Só as criaturas humanas, nem mesmo os grandes macacos e os cães amestrados conseguem abrir uma porta bem fechada e vice-versa, isto é, fechar uma porta bem aberta.
Somos todos tão bobos, Maria. Praticamos uma ação trivial, e temos a presunção petulante de esperar dela grandes conseqüências. Quando Alice comeu o bolo, e não cresceu de tamanho, ficou no maior dos espantos. Apesar de ser isso o que acontece geralmente às pessoas que comem bolo.
Maria, há uma sabedoria social ou de bolso; nem toda sabedoria tem de ser séria ou profunda.
A gente vive errando em relação ao próximo e o jeito é pedir desculpas sete vezes por dia: "Oh, I beg your pardon!” Pois viver é falar de corda em casa de enforcado. Por isso te digo para a tua sabedoria de bolso: se gostas de gato; experimenta o ponto de vista do rato. Foi o que o rato perguntou à Alice: "Gostarias de gatos se fosses eu?”.
Os homens vivem apostando corrida, Maria. Nos escritórios, nos negócios, na política, nacional e internacional, nos clubes, nos bares, nas artes, na literatura, até amigos, até irmãos, até marido e mulher, até namorados, todos vivem apostando corrida. São competições tão confusas, tão cheias de truques, tão desnecessárias, tão fingindo que não é, tão ridículas muitas vezes, por caminhos tão escondidos, que, quando os corredores chegam exaustos a um ponto, costumam perguntar: "A corrida terminou! mas quem ganhou?" É bobice, Maria da Graça, disputar uma corrida se a gente não conseguirá saber quem venceu. Para o bolso: se tiveres de ir a algum lugar, não te preocupe a vaidade fatigante de ser a primeira a chegar. Se chegares sempre aonde queres, ganhaste.
Disse o ratinho: "Minha história é longa e triste!" Ouvirás isso milhares de vezes. Como ouvirás a terrível variante: "Minha vida daria um romance". Ora, como todas as vidas vividas até o fim são longas e tristes, e como todas as vidas dariam romances, pois um romance é só o jeito de contar uma vida, foge, polida mas energicamente, dos homens e das mulheres que suspiram e dizem: "Minha vida daria um romance!" Sobretudo aos homens. Uns chatos irremediáveis, Maria.
Os milagres sempre acontecem na vida de cada um e na vida de todos. Mas, ao contrário do que se pensa, os melhores e mais fundos milagres não acontecem de repente, mas devagar, muito devagar. Quero dizer o seguinte: a palavra depressão cairá de moda mais cedo ou mais tarde. Como talvez seja mais tarde, prepara-te para a visita do monstro, e não te desesperes ao triste pensamento de Alice: "Devo estar diminuindo de novo". Em algum lugar há cogumelos que nos fazem crescer novamente.
E escuta esta parábola perfeita: Alice tinha diminuído tanto de tamanho que tomou um camundongo por um hipopótamo. Isso acontece muito, Mariazinha. Mas não sejamos ingênuos, pois o contrário também acontece. E é um outro escritor inglês que nos fala mais ou menos assim: o camundongo que expulsamos ontem passou a ser hoje um terrível rinoceronte. É isso mesmo. A alma da gente é uma máquina complicada que produz durante a vida toda uma quantidade imensa de camundongos que parecem hipopótamos e de rinocerontes que parecem camundongos. O jeito é rir no caso da primeira confusão e ficar bem disposto para enfrentar o rinoceronte que entrou em nossos domínios disfarçado de camundongo. Mas como tomar o pequeno por grande e o grande por pequeno é sempre meio cômico, nunca devemos perder o bom-humor. Toda pessoa deve ter três caixas para guardar humor: uma caixa grande para o humor mais ou menos barato que a gente gasta na rua com os outros; uma caixa média para o humor que a gente precisa ter quando está sozinho para perdoares a ti mesma, para rires de ti mesma; por fim, uma caixinha preciosa, muito escondida, para as grandes ocasiões. Chamo de grandes ocasiões os momentos perigosos em que estamos cheios de sofrimento ou de vaidade, em que sofremos a tentação de achar que fracassamos ou triunfamos, em que nos sentimos umas drogas ou muito bacanas. Cuidado, Maria, com as grandes ocasiões.
Por fim, mais uma palavra de bolso: às vezes uma pessoa se abandona de tal forma ao sofrimento, com uma tal complacência, que tem medo de não poder sair de lá. A dor também tem o seu feitiço, e este se vira contra o enfeitiçado. Por isso Alice, depois de ter chorado um lago,  pensava: "Agora serei castigada, afogando-me em minhas próprias lágrimas".
Conclusão: a própria dor tem a sua medida. É feio, é imodesto, é vão, é perigoso ultrapassar a fronteira de nossa dor, Maria da Graça.

Texto extraído do livro “O Colunista do Morro”, Editora do Autor – Rio de Janeiro, 1965, pág. 23



quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Feliz Ano Novo pra MIM

Felicidade
(Marcelo Jeneci)

Haverá um dia em que você não haverá de ser feliz.

Sem tirar o ar, sem se mexer, sem desejar como antes sempre quis.
Você vai rir, sem perceber, felicidade é só questão de ser.
Quando chover, deixar molhar pra receber o sol quando voltar.
Lembrará os dias que você deixou passar sem ver a luz.
Se chorar, chorar é vão porque os dias vão pra nunca mais.

Melhor viver, meu bem, pois há um lugar em que o sol brilha pra você.

Chorar, sorrir também e depois dançar, na chuva quando a chuva vem.
Melhor viver, meu bem, pois há um lugar em que o sol brilha pra você.
Chorar, sorrir também e dançar.
Dançar na chuva quando a chuva vem.

Tem vez que as coisas pesam mais do que a gente acha que pode aguentar.

Nessa hora fique firme, pois tudo isso logo vai passar.
Você vai rir, sem perceber, felicidade é só questão de ser.
Quando chover, deixar molhar pra receber o sol quando voltar.


Melhor viver, meu bem, pois há um lugar em que o sol brilha pra você.

Chorar, sorrir também e depois dançar, na chuva quando a chuva vem.
Melhor viver, meu bem, pois há um lugar em que o sol brilha pra você.
Chorar, sorrir também e dançar.
/Dançar na chuva quando a chuva vem.
 
Há um ano atrás eu estava em Fortaleza, longe de casa, tensa, ansiosa pois no dia seguinte iria me internar para o tratamento da Radioiodoterapia... 
Graças a Energia Superior, hoje, um ano depois, pude comemorar o dia de meus anos em casa, com o coração agradecido, pronto pra admirar o arco-iris e receber o sol que, como cantou lindamente o Jeneci, brilhou pra mim neste dia!
Obrigada, obrigada, obrigada... minha alma hoje só sabe agradecer...
 
Pensamentinho de Cabeceira:
"Se por acaso morrer do coração
É sinal que amei demais
Mas enquanto estou viva e cheia de graça
Talvez ainda faça um monte de gente feliz"
(Rita Lee(nda) rs!)
 
 

terça-feira, 3 de julho de 2012

Ponto final de interrogação

O Gosto do Azedo
(Rita Lee)

Para o sangue, sou o veneno
Eu mato, eu como, eu dreno
Para o resto da vida, sou extremo
Sou o gosto do azedo
A explosão de um torpedo
Contaminação do medo
Eu guardo o seu segredo
Sou o HIV que você não vê
Você não me vê
Mas eu vejo você
Sou a ponta da agulha
Tanto bato até que você fura
É a minha a sua captura
Sou dupla persona
Seu estado de coma
Sou o caos, sou a zona
Seu nocaute na lona
Sou o HIV que você não vê
Você não me vê
Mas eu vejo você
Eu sou o livre-arbítrio
Sem causa com efeito
Sua força é meu grande defeito
Sou a dor da tortura
Uma nova ditadura
Terminal da loucura
Sou o vírus sem cura
Sou o HIV que você não vê
Você não me vê
Mas eu vejo você

Sinto. Ouço. Calo. Penso. Convido. Me acanho. Me acato. Me recato. No ato.
O brilho. O olho. A sede. A boca. O pé. Do ouvido. Um cisco. No olho. A cor.
A cor. O A Cor do. Olho. Duvido. Vejo. Sinto. Ouço. Calo.
Penso. Despenso. Dispenso. Retraio. Convido. Com Ouvido. Com ovido. Revido.
Um dia. Quem sabe. Esc olho. O olho. O beijo. A carne. Arde.
Sinto. Ouço. Calo. Falo?

Pensamentinho de Cabeceira:
"Sou nova demais pra velhos comícios
Sou velha demais pra novos vícios"
(Rita Lee - Nunca fui Santa) 

segunda-feira, 12 de março de 2012

Convite!

A Coletânea Cordelirando, da cordelista Salete Maria, já tem data, hora e local certinhos para ser lançada!
Se você mora em Salvador, fica a dica de um programaço, com a presença da Cordelista Salete Maria e tudo mais!

Se você não mora em Salvador mas, assim como eu, quer demais a bolsinha linda decorada com fuxico e os nove cordéis de Salete, entra em contato comigo aqui pelo blog ou me manda um email: sammyra_santana@hotmail.com e coloque no assunto: Cordelirando. 
Aí conversaremos sobre a forma de pagamento (tá baratinho, gente, vinte reais) e, se quiser, ainda dou um jeito de ir autografado! rsrs



Alô você que mora em Salvador!

Neste sábado dia 17, às 13h, na loja de discos 
Pérola Negra, no bairro do Canela, acontece o lançamento 
da coletânea Cordelirando: mulher também faz cordel, 
da cordelista Salete Maria da Silva. 

A compilação Cordelirando: mulher também faz cordel 
contém nove folhetos da cordelista, 
DVD com um dos títulos musicado e um 
ensaio sobre a literatura de cordel no Brasil. 

Outro destaque, volta-se para o encarte: 
uma bolsinha de tecido decorada com fuxicos e 
serigrafia que materializa o fazer artesanal 
que tão bem caracteriza a criatividade nordestina

Neste dia, a cordelista Salete Maria irá recitar
alguns cordéis que versam por temas como
religiosidade popular, sexualidades, violência
e atuação política das minorias representadas no país.

O valor da bolsinha com DVD custa R$ 20,00. 

Vamos celebrar a cultura regional, minha gente!!

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

E?

À Palo Seco
(Belchior)

Se você vier me perguntar por onde andei
No tempo em que você sonhava.
De olhos abertos, lhe direi:
- Amigo, eu me desesperava.
Sei que, assim falando, pensas
Que esse desespero é moda em 73.
Mas ando mesmo descontente.
Desesperadamente eu grito em português:
2x (bis)
- Tenho vinte e cinco anos de sonho e
De sangue e de América do Sul.
Por força deste destino,
Um tango argentino
Me vai bem melhor que um blues.
Sei, que assim falando, pensas
Que esse desespero é moda em 73.
E eu quero é que esse canto torto,
Feito faca, corte a carne de vocês.
(2x)


E essa inconstância da vida, da alma, das vontades, dos sentidos, do sentir?
E esse emaranhado de sonhos, desejos, inspirações e aspirações?
E esse tudo querer e nada ter? E esse tudo ter e nada querer?
E essa vida bandida que nos assalta e leva embora os nossos tesouros?
E essa vida querida que nos aproxima dos nosso amores?
E esse feijão com arroz de todo dia? 
E o tempero novo que dá mais sabor ao prato de quem come?
E os anseios?
E as perspectivas?
E o novo?
E o que virá?
O que virá...
Virá!

Pensamentinho de Cabeceira:
"O verdadeiro amor não é fácil.
Mas quando você o encontra, deve lutar por ele 
pois o verdadeiro amor não pode ser substituído"... 
(Once Upon a Time)

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Salve, Chico

Partido Alto
(Chico Buarque)

Diz que deu, diz que Deus,
Diz que Deus dará,
Não vou duvidar,ô nega
E se Deus não dá,
Como é que vai ficar, ô nega?

Diz que deu, diz que dá,
E se Deus negar, ô nega
Eu vou me indignar e chega,
Deus dará, deus dará (2x)

Deus é um cara gozador,
Adora brincadeira
Pois prá me jogar no mundo,
Tinha o mundo inteiro

Mas achou muito engraçado
Me botar cabreiro
Na barriga da miséria
Nasci brasileiro

Eu sou do Rio de Janeiro
Diz que Deus dará,
Não vou duvidar,ô nega
E se Deus não dá,
Como é que vai ficar, ô nega?

Diz que deu, diz que dá,
E se Deus negar, ô nega
Eu vou me indignar e chega,
Deus dará, Deus dará

Deus me fez um cara fraco,
Desdentado e feio
Pele e osso simplesmente,
Quase sem recheio

Mas se alguém me desafia
E bota a mãe no meio
Dou pernada a três por quatro
E nem me despenteio

Que eu já tô de saco cheio
Refrão (1x)
Deus me deu mão de veludo
Prá fazer carícia
Deus me deu muita saudade
E muita preguiça

Deus me deu perna cumprida
E muita malícia
Prá correr atrás de bola
E fugir da polícia

Um dia ainda sou notícia
Refrão
Jesus cristo ainda me paga,
Um dia ainda me explica
Como é que pôs no mundo
Essa pouca titica

Vou correr o mundo afora,
Dar uma canjica
Que prá ver se alguém me embala
Ao ronco da cuíca

E aquele abraço prá quem fica

Tem gente que diz que Chico Buarque é excelente compositor, mas péssimo cantor, que não transmite emoção ao cantar... eu discordo!
Chico tem uma despretensão pretensiosa na sua voz mansa, uma profundidade no seu olhar e uma simplicidade sem tamanho que as palavras, a melodia, não precisam de esforço pra sair de seus lábios, elas simplesmente vão escapando, assim como quem vai à feira, e entrando dentro da gente, se misturando com nossa história, com nosso momento.
O mais interessante nisso é que, suas palavras emprestadas a outras vozes, de fato, adquirem nova conotação, novos timbres, que mexem e remexem a gente por dentro, se misturando, assim como o leite vai "amarronzando" quando mergulha numa xícara de café.
Chico é o café, a essencia, o mote... é parte de cada um de nós porque sempre cantou e encantou a vida.
Salve, Chico Buarque! 

Pensamentinho de Cabeceira:
 "Não me leve a mal, me leve apenas para passear por ai..." 
(Chico Buarque)

domingo, 15 de janeiro de 2012

Nova prosa da Menina e do Coração


Olha
(Chicas)

Olha a luz que vem de lá
Veja a chuva já passou
Espera que a vida vai melhorar
Reza pra Deus Nosso Senhor

Jura que vai me esperar
Volta, vamos recomeçar
Planta amor que amor vai dar
Viva a vida, vida...

Roda nesse mundo carrossel
Brinca solta pipa olha pro céu
Muda de lugar pra ver além
Chama o irmão pra vir também

Grita, que é pra todo mundo ouvir
Ouve, eu não vou mais repetir
Toca a canção da esperança
Avisa, vou voltar a ser criança

Pega a estrela que caiu
Leva onde haja a escuridão
Pede pra miséria acabar
Vamos todos repartir o pão

Luta pelo seu ideal
Força, vai adiante até o final
Voa pra sua liberdade
Canta que a vida é boa.....
A vida é boa....



E a menina levantou da última queda, os joelhos meio sujinhos de terra - Não! Terra não! A terra tinha virado lama por causa das lágrimas que vertera amedrontada - percebe algumas raladuras e compreende enfim o porquê de arder tanto...

Desamarrota o vestidinho, passa as mãos também meio sujinhas, pelo cabelo, tirando da frente dos olhos para poder enxergar melhor à sua volta. E, enxergando melhor, nota enfim que aquelas feridas já viraram cicatrizes. Conta-as: uma, duas, três, quatro, cinco! Cada queda, uma cicatriz. Cada cicatriz, uma história. Cada história, um aprendizado.

Agora, olhando para a frente, vê que cresceu alguns centímetros pois consegue enxergar a vida de um outro ângulo... Seria por ter crescido? Ou por ter tirado o cabelo da frente dos olhos? confusa, coça a cabeça e contempla um pouco o horizonte... Observa detalhes que sempre estavam lá, mas que nunca os tinha percebido. Por conta disto, leva a mão esquerda à boca entreaberta num espanto e ralha consigo mesma: como posso não ter visto se estava bem diante do meu nariz?

Meditando um pouco sobre os últimos acontecimentos, se pergunta como foi que conseguiu passar por tudo e sair apenas com alguns - pequenos - arranhões. Sente-se mais forte, mais crescida, mais segura de si, mas sente também que existe algo mais. Sozinha ela não teria conseguido, ou até tivesse, mas, com certeza, estaria bem mais machucada e talvez algumas cicatrizes ainda permanecessem abertas!

Num gesto de questionamento, ela estende os dois braços, com as palmas das mãos viradas para cima e, enfim, sente algo tocando sua mão esquerda - sim, a mão que ela escreve, a mão do lado do coração - como se este algo abraçasse sua mão. 

Olha pro lado e seu sorriso se abre largo... a segurar sua mão estava a mão do Coração! Semicerrando os olhinhos, a menina enfim desvenda o mistério, com ar travesso: tudo fora mais fácil, as feridas cicatrizaram, só ficaram pequenos arranhões, que nem tavam mais doendo - porque o Coração esteve sempre lá: segurando, amparando, acarinhando, levantando, de um jeito meio silencioso, emanando uma energia tão pura, tão forte, tão bonita, que não tinha como não curar qualquer ferida que fosse.

Cientes de que não estavam mais sozinhos neste mundo, de mãos dadas, Menina e Coração seguiram pelo caminho de ladrilhos amarelos sob as sete cores do arco-iris. Já disse: para mim arco-iris vai ser sempre assim, separadinhos mas unidos pelo tracinho do meio, de mãos dadas, assim como a Menina e o Coração!


Pensamentinho de Cabeceira:

"Sim, eu poderia morrer de dor
Eu poderia morrer e me serenizar
Ah, eu poderia ficar sempre assim
Como uma casa sombria, uma casa vazia
Sem luz nem calor
Mas quero as janelas abrir
Para que o sol possa vir, iluminar nosso amor"
(Zélia Duncan)